Na cultura do jeitinho, basta "pão e circo"!

Lendo no dia 19 de Julho a coluna de Fernando Barros e Silva na Folha de São Paulo, me chamou a atenção, o tema do seu texto que  foi: “ Porque não reagimos a corrupção?” . Pergunta essa que foi feita em primeira estância não por um brasileiro mas por Juan Arias correspondente no Brasil do  jornal espanhol El País.
A conclusão de Fernando Barros é de que não há respostas simples e  existem fatos pragmáticos para não reagirmos a tudo que estamos vendo no Palácio do Planalto e nas estâncias de poder da nação. Fatos que levam a população a uma acomodação, como a melhora de vida de milhões de brasileiros, mesmo sob intensa corrupção, a estatização dos movimentos sociais da UNE ao MST, todos eles recebem dinheiro do governo e de alguma forma foram aliciados. Ou seja é a mesma política da época dos imperadores romanos. A Política do pão e circo. 
Na Roma antiga, a escravidão na zona rural fez com que vários camponeses perdessem o emprego e migrassem. O crescimento urbano acabou gerando problemas sociais e o imperador, com medo que a população se revoltasse com a falta de emprego e exigisse melhores condições de vida, acabou criando a política “panem et circenses”,  a política do pão e circo. Este método era muito simples: todos os dias havia lutas de gladiadores nos estádios (o mais famoso foi o Coliseu) e durante os eventos eram distribuídos alimentos (trigo, pão).
Ao ler esse artigo, comecei a fazer  indagações sobre o tempo e a cultura em que vivemos. Cultura do jeitinho e do  pragmatismo. Jeitinho brasileiro que se acopla a maneira que nos relacionamos com Deus e com o próximo. Pragmatismo que resume a nossa existência e a nossa maneira de nos envolvermos com Deus. Muitas vezes sabemos o que tem que ser feito, mas damos um jeitinho de “aplacar” a esse deus, com nossas oferendas e barganhas. Queremos um Deus que sirva ao nosso desejos. Com o próximo usamos esse mesmo método pois vivemos relações cada vez mais utilitaristas e hedonistas. Só dou valor ao outro na medida em que ele me serve para alguma coisa.
E isso me faz pensar o que falou Paulo sobre: “ Comamos e bebamos que amanhã morreremos” e essa é a lógica pragmática existencialista do nosso tempo, que paralisa o nosso tempo e o nosso povo. A mesma  lógica usada por  Satanás que na tentação de Jesus usou pão, poder e reino. Ou quem sabe no meu modo de interpretar, pão e circo. Pão pois na sua mente era isso que Jesus precisava naquele instante ( matar a fome)  e circo pois ao se jogar do pináculo do templo , isso nada mais seria do que um ato circense, um ato narcisista de idolatria a si mesmo.
  É o que vemos na nossa cultura que se contenta com crescimento econômico, que se alegra com esse crescimento que afinal de contas não pode ser trocado por valores morais e espirituais. Se temos experimentado crescimento e prosperidade, porque protestar? É o que dizemos. “ Os fins justificam os meios!”
A lógica do  Circo,  é alegria dentro da tenda, alegria lúdica e muitas vezes passageira
creio que o   segredo é entender o que Jesus entendia, que o que  vale mesmo não é o pão, mas sim fazer a vontade do Pai, não é o circo, pois viver pulando de trapézios e pináculos do templo  é tentar a Deus e com isso receber as suas consequencias.
Essa lógica que nos amarra não tem nada haver com o Reino, pois a Deus pertence até mesmo o poder temporal e por isso pode ele dizer: Arreda-te Satanás. Viver como Jesus é  Viver a vida na perspectiva da dependência que  nos leva a ver que as coisas como estão não podem ficar do mesmo jeito, elas precisam mudar.  Que como estão elas só podem funcionar na cultura do jeitinho que se basta somente com Pão e circo. 
© 2011 Ricardo Capler

Nenhum comentário:

Postar um comentário