Estamos todos no mesmo barco

O modelo prisional brasileiro é um típico exemplo das nossas neuroses no tratamento com o próximo , nas nossas posições de julgamento e acusação, é um exemplo do nosso papel de “diabos” na vida do outro. Pois podemos observar que o modelo prisional tem servido para perpetuar cada vez mais a marginalidade e a bandidagem na sociedade brasileira, e não tem servido como instrumento reformatório e ressocializante do marginal. 
Pois no fundo no fundo a sociedade precisa de que tenhamos marginais e bárbaros na cadeia para justificar as suas próprias consciências adoecidas, neurotizadas e desalmadas, pois olhamos para um seleto grupo de marginais e podemos olhar para eles comparativamente e dizer : “È vejam só, não estamos tão mal assim , existem pessoas piores". E assim a gama dos nossos erros, mau -cáratismos, desonestidades, e desamores se perpetuam pelo fato de não "sermos tão maus assim" E usamos o próximo como instrumentos de justificativas para as nossas obras más. Sempre há alguém em uma situação pior que a minha, sempre há alguém que é o bode expiatório para as minhas ações.
Essa postura é um arquétipo universal  presente em todas as sociedades, em todas as comunidades, famílias e principalmente dentro das nossas igrejas que exercitam mais o juízo do que a graça nos relacionamentos. Gostamos de viver em uma Lei moral que nos permite não reconhecer que estamos todos no mesmo barco, vivemos  uma Lei que nos dá a oportunidade de nos comparar, de comparar os nosso méritos, os nossos pecados, de nos auto-justificarmos diante de Deus. É que Paulo diz em Efésios 2.  “ Todos nós já nos comportamos assim, fazendo o que queríamos, a nossa própria vontade; estávamos todos no mesmo barco...”[1]   
O problema é que essa é a antítese de tudo o que Jesus ensinou nos evangelhos, que nos mostram que não há justificação por meio da lei, pelos nossos méritos e pelas nossas pseudo-virtudes cristãs. O que Cristo nos ensina é que a graça é a porta, é onde devemos estar e viver, sem crises e sem neuroses, sem culpas forjadas pelo nosso senso de justiça própria.Quando nos vemos assim entendemos que a graça nos justifica e que todos estamos no mesmo barco, que todos somos igualmente pecadores que carecem da misericórdia de Deus.  Não há nada que faça ou realize que me dê condições de ser juiz do meu próximo, que me dê condições de justificar as meus pecados. Não há justificativas.  A graça nos liberta para vivermos conscientes de que não é o que faço e deixo de fazer que me faz aceitável a Deus, mas sim aquilo que Jesus fez na cruz. A graça nos liberta para sermos nós mesmos, longe das nóias e paranóias que nos envolvem na nossa caminhada cristã, nos liberta da nossa síndrome de comparação e de justiça própria. Nos liberta para a solidariedade e para o serviço em relação ao meu próximo. Pois quando compreendo que aos olhos de Deus não há nada que me  faça estar em melhor situação que o meu próximo, aí  eu começo a entender e a  ministrar com amor para aqueles que de alguma maneira estão ainda distantes da graça.  
Quando isso se transforma em nossa prática de vida aí sim podemos amar ao próximo como a nós mesmos.



[1] A Mensagem – Bíblia em Linguagem Contemporânea ( Eugene Peterson) Ed. Vida

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