Eu fui criado na igreja, desde a minha meninice aos 6 anos fui levado a uma Igreja Batista, onde encontrei Jesus e tive a minha vida transformada. Uma igreja Batista “tradicional” da Convenção Batista Brasileira, onde naquela época ainda bater palmas eram coisas de pentecostais e bateria era algo do rock e o pai do rock é o diabo.
Essa fui a cultura onde fui criado e ensinado. Durante muitos anos eu tive muitas dificuldades de falar de Jesus, pois havia algumas coisas que eu não conseguia biblicamente responder “ porque algumas coisas na nossa estratégia era considerado pecado” Minha peregrinação foi longa até que na minha adolescência ( o ano de 1995) eu fui a uma Livraria Evangélica e peguei uma fita de vídeo de uma banda de rock cristão muito conhecida naquela época: o Petra.
Peguei essa fita, a escondi como um usuário que não pode e não quer ser descoberto e assisti em minha casa. Aquela fita mostrou uma banda de rock ( rock não era do diabo?), séria, com letras relevantes e bíblicas, alcançando uma multidão de jovens que estavam morrendo sem Cristo. Ali foi um processo de liberação e revelação onde comecei a repensar o meu caminho como líder e futuro pastor. Hoje continuo sendo um pastor batista da Convenção Batista Brasileira e me desculpem o acesso de "orgulho" me sinto ainda mais batista hoje do que na época em que achava que ouvir Petra, bater palma e usar boné no " templo" eram coisas do diabo.
E essa ainda é a velha discussão que temos igreja- cultura- evangelho. Confundimos isso, não sabemos distinguir uma coisa da outra e batemos tudo em um liquidificador e confundimos alho com bugalho ou digo não sabemos ao certo o que é evangelho- cultura e igreja. E por isso as igrejas “sobrevivem” e não alcançam pessoas na sua geração
Acabamos vivendo uma eclesiologia confusa ,misturada, um evangelho que não consegue falar ao nosso tempo e assim vamos perpetuando uma igreja dentro de uma cultura estranha e com um “evangelho que parece ultrapassado”.
E entendo que essa é uma das maiores razões porque pessoas tem sido impedidas de serem alcançadas com a mensagem do evangelho, temos uma imensa dificuldade de atravessar a rua e contextualizar. Nos prendemos nos ditames da cultura em que " nos convertemos" e onde fomos ensinados e a sacralizamos.Achamos que o evangelho de Jesus de "Nazaré" não pode se adaptar as culturas. E que Jesus fala inglês e o evangelho é somente o dos nossos colonizadores.
Nos prendemos em discussões : musica do mundo ou musica gospel? Qual o limite entre o sagrado e o profano?. A dança é de Deus ou do Diabo?, será que o diabo teve um filho que se tchama : Rock? O " verdadeiro crente" pode ter tatuagens e piercings ou isso é expressão de rebeldia , pecado e abrir brecha para ação maligna?
Na verdade tudo isso não passa de uma discussão para encobrir a nossa imensa religiosidade e legalismo. A dificuldade que temos de quebrar os nossos paradgmas e a nossa tendência de manter o status quo, sem nunca nos perguntarmos: Porque as coisas são assim? O que a Bíblia diz sobre isso?
Há na maioria dos membros de nossa igreja uma suscetibilidade e a uma tendência de sermos “separados” e “santarados” de criar uma separação entre “ nós e eles". A "igreja" e o mundo.
Vivemos um “Xiismo gospel”, e os “Xiitas evangélicos” são encontrados todos os domingos nos cultos das nossas igrejas, de tal maneira que eles estão dispostos a matar pessoas para manterem as suas tradições.
A igreja não é desse mundo,mas está no mundo, um mundo que Jesus morreu e precisa ser alcançado.
Achamos que entendemos a Deus e que o Deus que servimos é “escandalizável” a ponto de abominar um louvor onde os jovens estiverem com bonés. Esses bates bocas intermináveis só servem para afastar ainda mais as pessoas da “igreja” e do “evangelho”.
O tempo que vivemos é para revermos o que é o evangelho, e fazermos a ponte sem vendermos os conteúdos do evangelho.
Como fazer isso? É claro que é vivendo os princípios da palavra e entendendo tudo o que fazemos com base nessa palavra, ela não pode mudar, mas a maneira de apresentarmos o evangelho, métodos, a linguagem, as musicas, as estratégias tudo isso precisa sempre ser repensado, adaptado e mudado para alcançar a nossa geração.
Por isso a pergunta não é: "penso que", "ou é a minha opinião pessoal". Mas sim o que precisamos mudar para alcançar o coração das pessoas que não conhecem a Jesus e estão envolvidos em sua cultura? Quais são as pontes que podemos utilizar que não ferem a palavra para chegarmos perto deles? Quais são os paradigmas pessoais que precisamos quebrar?
Até que ponto estou disposto a ir para alcançar o coração daqueles que estão separados de Deus?
O nosso desejo sempre é o de fazermos " três tendas" no monte da transfiguração enquanto pessoas estão morrendo no vale.
Fico com as palavras do Pr. Mark Driscoll, precisamos ser igrejas teologicamente conservadoras e culturalmente liberais.
Esse é o principio da encarnação. Vivermos um evangelho culturalmente relevante, servindo a Deus no nosso tempo.
A frase que mais me impacta nesse processo toda é a de Charles Spurgeon: " Para o homem que vive para Deus tudo é sagrado e nada é secular"
Eu louvo a Deus que me ajudou a descer desse “ carrossel gospel”, que me ajudou a abandonar esse “ xiismo gospel” que mais afasta do que atrai as pessoas pelas quais Cristo morreu.