Protestar, ou se acomodar? Qual a sua posição?

Nas últimas semanas ao ligarmos a televisão parece-nos que estamos observando cenas que se passam em outros países e não em nossa nação que está  tão acostumada a filosofia do “pão e circo.”
Os protestos que se seguiram não só em São Paulo, mas que tem acontecido em nossa cidade carecem de uma avaliação de nossa parte como discípulos de Jesus. Expresso aqui a minha opinião como pastor de uma igreja local e cidadão.
Qual  é a posicionamento que devemos ter diante de uma série de movimentos como esses?
Devemos entender antes de mais nada que protestar deveria ser visto como algo natural , o desejo da população de ver os ideias de justiça deveria ser visto como algo inerente ao ser humano, um desejo genuíno de participação nos rumos das nossas cidades e nação. 
Concordo com as palavras do Bispo Robinson Cavalcanti que disse:
“ O Compromisso do cristão é com os valores do reino. Vivendo na história a natureza caída, em um interregno entre a ordem da criação e a ordem da redenção, o cristão não tem outro compromisso senão manifestar concretamente esses sinais, evidencias do Reino e suas antecipações possíveis.”
Ou seja temos o dever de reformar o mundo em todas as suas áreas.
Mas como cristãos deveríamos estar envergonhados por não tomarmos posição na luta pela injustiça. Essa  é uma marca histórica do cristianismo. Devemos nos envergonhar por não sermos os agentes que são a voz de Deus na nossa sociedade contra todo tipo de abuso e exploração.
Hoje só saímos as ruas e tomamos posição apenas quando o assunto é o Deus dos evangélicos” que é o sexo.
O fato é  que não concordo com aqueles que em meio aos protestos estão ali para uso da violência e para depredar o patrimônio publico, muitas vezes eles mancham um movimento que poderia ter “ voz” e “vez” .
Mas não podemos ser ingênuos em observar que a maioria dos que assim fazem não são parte do movimento e muitas vezes estão ali plantados por grupos políticos para que a população se indisponha com o movimento.
Não  podemos  nos calar, não tomar posição e não agir como igreja de Jesus.
E que não usemos Romanos 13 como argumento para não protestarmos contra injustiça que nos acomete hoje da maneira mais deslavada, pois a autoridade deve ser obedecida enquanto ministra de Deus para que sejam implantados os valores do reino : justiça, paz, amor, liberdade, senão é assim, estarão sendo os ministros de Satanás como já ensinavam os teólogos da reforma.  A partir desse ponto quando ela não governa para o bem comum temos o dever da “desobediência civil” 
Por isso protestar é oportunidade democrática de demonstrarmos o descontentamento que temos com a corrupção que nos cerca, com os mandos e desmandos daqueles que governam em beneficio próprio e não em beneficio do povo.  Oportunidade de marcarmos posição e dizermos: “Não somos coniventes com a injustiça, com a exploração e com esse “ditadura” mascarada de democracia. 
Um outro conselho é tome  muito cuidado com o que você vê ou ouve. Não tome o seu posicionamento com  base no que nos mostram os nossos comentaristas televisivos ou os nossos “teólogos de torre de marfim” que na prática não amam o povo, não entendem os anseios do povo, mas vivem uma “Síndrome de Justo Veríssimo”: que sente raiva de pobres ( pois são sujos, mal educados, e violentos), tem raiva de protesto e de greve, e sente satisfação com o estado de governo.
E creio que podemos  fazer uma grande diferença se tomarmos posição como igreja, que denuncia a injustiça, não só através dos nossos textos e reflexões, mas na nossa prática.
Não são as greves e protestos que estão acontecendo em São Paulo que deveriam chamar a nossa atenção.  Pode ter chamado a sua atenção pois está estampada em todas as páginas de jornal e nos noticiários da TV
Mas devemos nos atentar principalmente com as reivindicações que tem haver com a nossa cidade ( Piracicaba), os desafios e protestos que aqui se fazem a vários meses e não tem tido o devido crédito por parte dos pastores e líderes.  Aqui é o lugar em que temos a oportunidade de sairmos da teoria e irmos para a prática, temos a oportunidade de construirmos a história e provocarmos mudanças e não sermos apenas observadores do que está acontecendo  na beira da estrada e na frente da tela de um computador. 
Não podemos nos calar! Não podemos ficar em cima do muro. Precisamos tomar posição e influenciarmos com os valores do Reino. 
Estamos diante de uma grande oportunidade e não podemos perdê-la. 
Que Deus nos ajude!


Um comentário:

  1. Concordo em gênero número e grau com o conteúdo do texto. Toda manifestação política assim como o nosso voto é de interesse público. Manifestações contra o aumento da tarifa do transporte público, são de interesse da população em geral, ainda que nem todos utilizem com frequência o transporte coletivo público. Do mesmo modo que somos concidadãos do Reino de Deus, também somos cidadãos da Pólis, portanto tudo o que for de interesse da população como um todo, deve nos desafiar. Com isso não quero dizer que todos devam sair as ruas e darem a cara a tapa, antes, que todos devem apoiar manifestações legitimas que reivindicam (civilizadamente), interesses da população. Como cristãos inseridos na Pólis, não temos que nos preocupar somente com interesses nossos ou de nossos pares, mas com os interesses da população!

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